Conhecida por ser bastante utilizada na construção, arquitetura e produção de objetos de decoração, a argila é uma matéria-prima bastante requisitada por sua facilidade de molde e criação. E quem é que, na infância, nunca realizou a divertida atividade de brincar com este material, criando inúmeros moldes e formatos, resultados de uma imaginação bastante criativa?!
Mas o fato curioso é que a argila também é uma grande aliada no desenvolvimento de um novo carro ou utilizada até mesmo para renovar a versão de um consagrado veículo, sabia? Isso mesmo! Os traços, o estilo, as linhas finas e formas sutis dos veículos da Ford são atribuídos à arte de trabalhar com uma argila plástica sintética, chamada de clay (argila, em inglês).
Além de sketches, pranchetas, grandes telas de computador, sofisticados softwares de 3D, robôs e máquinas da linha de produção, este é um trabalho artístico feito pelas mãos de verdadeiros artesãos: os modeladores de clay. “Apesar de todo o avanço no processo para desenvolvimento dos nossos carros, a etapa de modelagem ainda é uma tradição tanto na Ford quanto na indústria automotiva”, revela Fabio Sandrin, supervisor de Design da Ford América do Sul.
O clay é utilizado para a modelagem do veículo. Diferentemente de uma argila comum, que ao ser aquecida endurece rapidamente e não pode mais ser facilmente manipulada, sua composição permite que o material, a altas temperaturas, ganhe uma textura mais maleável para facilitar sua aplicação sobre uma base de PU, uma espuma de poliuretano de alta densidade. Ao esfriar, o clay automotivo volta à sua textura mais firme, permitindo que os designers, juntamente com os modeladores, possam esculpir sua superfície.
O primeiro passo desses profissionais, considerados verdadeiros escultores, é criar as superfícies 3D nos softwares. Na sequência, moldam um protótipo e fazem as correções manualmente. Após esse processo artesanal, o time da Ford retorna com os ajustes para os programas de design. Ao moldar em tamanho real (sim, tamanho real!), designers e engenheiros detectam possíveis problemas no interior ou exterior do veículo, ou seja, elementos ou traços nem sempre evidentes em modelos digitais ou em pequena escala.
Durante todo o processo de desenvolvimento do projeto, a sustentabilidade também é fortemente levada em conta neste fluxo de trabalho. O clay é reutilizável por meio de uma máquina capaz de reciclar toneladas e mantê-lo fora dos aterros sanitários. Compartimentos são colocados ao redor dos moldes do veículo e, à medida que os designers manipulam o material, os restos são coletados em cubas. Na sequência, são colocados em fornos para suavizar o material para a reutilização. Dessa forma, ao começar o projeto de um novo modelo, é possível reutilizar o clay. Graças a esse processo, a Ford conseguiu reutilizar cerca de nove toneladas globalmente nos últimos cinco anos durante o processo de desenvolvimento de seus carros.